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Games,  Resenha

“The Quarry” é um AAA, mas na prática não entrega esse padrão

Fazia muito tempo que eu não jogava um jogo de terror. Decidi comprar o “The Quarry”, que muitos chamam de “sucessor espiritual de Until Dawn”, outro jogo do mesmo estilo. 

“The Quarry” foi lançado em junho de 2022, desenvolvido pela Supermassive Games e publicado pela 2K Games. 

Como disse no título, esse jogo é um AAA apenas por conta dos valores de produção, porém, podemos dizer que foi um dinheiro mal gasto em certas partes. Ou um trabalho mal feito mesmo.  

Vamos por partes para entender melhor. 


Enredo

“The Quarry” nos traz um mistério que envolve a família Hackett, proprietária de um acampamento de férias em um local distante.
Sete adolescentes trabalham no local como monitores. Na hora de irem embora, o carro estraga e eles devem ficar no local até o amanhecer, esperando o diretor voltar com uma van para buscá-los. 

Naquela noite, alguns acontecimentos sinistros ocorrem e eles devem descobrir qual a ligação deles com a família Hackett, e ainda, alinhar tudo isso a um casal de monitores que nunca apareceu para trabalhar.
O jogo tem o estilo de narrativa emergente, ou “narrativa interativa”. Há 186 finais possíveis, todos dependentes das escolhas que o usuário faz no decorrer do jogo.


Gráficos, animação e interpretação

Os cenários do jogo e modelagem dos personagens é muito bem feita, digno de um AAA lançado em pleno 2022. As linhas de expressão, poros, brilho dos olhos, movimentos dos cabelos, por exemplo, merecem destaque.

Mas não confundam “gráfico bom” com “animação boa”. Para falar a verdade, essa última deixa muito a desejar. 

A expressão facial de alguns personagens é pífia, congelada e sem emoção alguma. Posso estar exagerando e comparando demais com interpretações magníficas como do Dutch Van der Linde em “Red Dead Redemption 2” ou da Ellie em prantos ao ver o Joel morrer em “The Last Of Us Part II”. Mas é difícil não fazê-lo. 

Costumo sempre valorizar a dublagem brasileira, pois ela é admirável em diversos desenhos animados, filmes e etc. Mas aqui, terei que deixar uma crítica em especial para o xerife Travis Hackett, que recebeu a captura de movimentos e interpretação do ator Ted Raimi. Em alguns momentos, a dublagem dele parecia de teatro de escola primária, de tão forçada. 

Falando nisso, o elenco não é nada amador. Contamos com as carinhas de David Arquette, Justice Smith, Ariel Winter, Brenda Song, Zach Tinker e muitos outros. Todos eles fizeram parte de grandes produções, como é o caso de Ariel, que integrou o elenco de “Modern Family”. 

Ou seja: não havia desculpa para capturas e dublagens ruins e mesmo assim fizeram. Nesse quesito, “Until Dawn” ganhou alguns pontinhos, e olha que nem tinha tantas estrelas assim no casting

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Foto: Reprodução


Jogabilidade

Uma coisa que me deixou um pouco frustrada é que parece mais um filme do que um jogo. 

Nossa interação é basicamente explorar o ambiente atrás de pistas e evidências, mexer o analógico quando solicitado em uma perseguição e prender a respiração (ação rápida, bem comum também em “Until Dawn”). Não há o desafio de ficarmos desesperados apertando uma sequência, corrermos/fugirmos por conta própria. Por exemplo, em “Detroit: Become Human” temos um controle bem maior de interação que me agrada bastante. 

Em questões de inventário, é bem simples e eficiente, consistindo em colher pistas, que ajudam o usuário a ir desvendando o mistério cada vez mais rápido em sua cabeça e as cartas de tarô, lidas por uma mulher misteriosa que mostra alguma cena futura do jogo em uma bola de cristal. Me empenhei bastante para encontrar as cartas, porque eu fiquei com vergonha pela primeira vez que me encontrei com ela e cheguei de mãos abanando. 

De uma forma geral, o jogo é bem fácil de entender desde o início. Não precisamos jogar um tempo passando raiva para “pegar o jeito”. Nesse quesito, “The Quarry” ganhou pontos. Por se tratar de um survivor, sua missão é manter todos vivos, na medida do possível (ou não). Afinal, o que não te mata, te deixa mais forte (quem jogou vai entender).

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Um exemplo de tela de escolha. Foto: Reprodução


Narrativa/diálogos/enredo

Como falei anteriormente, a narrativa é interativa, e admito, divertida em vários momentos do jogo. Ao contrário de “Heavy Rain”, por exemplo, aqui temos uma gama enorme de coisas para decidir. Até um inocente ursinho de pelúcia é algo que irá influenciar em coisas lá na frente. 

A história em si é simples, sem muitos pormenores. Dá para acompanhar tudo e não deixar nenhuma ponta solta no final. Achei bem mais simples do que “Until Dawn”, que é uma loucura sem tamanho. A diferença é que “The Quarry” é um pouco mais “palpável”.

Nós devemos jogar com todos os 7 adolescentes do acampamento, divididos em alguns pequenos capítulos de cada um. Porém, não gostei muito de alguns desses capítulos serem pequenos demais, o que os tornou um pouco desnecessários e dispensáveis. 

No total, não jogamos nem 15 minutos com cada um dos personagens nos capítulos. O único que durou mais foi da Laura, quando ela conta para o grupo os acontecimentos de quando estava na prisão, e que por isso, não pôde comparecer ao compromisso.

Falando de personagens, nenhum deles é carismático a ponto de adorarmos. Alguns são mais legais que os outros, mas como um todo, são superficiais e rasos. 

A melhor personagem, para mim, é a Cartomante. Ela é a coisa que mais me deu medo durante toda a jogatina.

Preciso levar em conta também que os personagens principais são adolescentes, por isso, meio bobos. Porém, alguns se superam na bobeira, como é o caso do Jacob, o estereótipo do atleta da faculdade em filmes da Sessão da Tarde e a Emma, uma influencer/blogueirinha que fica gravando vídeos enquanto alguém está tentando matar os amigos dela. 

Portanto, não espere diálogos inteligentes como em “Detroit: Become Human” ou até mesmo “Life Is Strange”. Em “The Quarry”, algumas coisas são meio “terrir”. 

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A cartomante, interpretada por Grace Zabriskie. Foto: Reprodução


“The Quarry” assusta mesmo?

Sim e não. 

A história em si não é algo que arrepia os cabelinhos da nuca, não passa nem perto de Silent Hill nos bons tempos, por exemplo. 

Porém, em várias cenas é possível ficar tenso, levar alguns sustos e entrar na onda de quem está vivendo aquilo. 

Os momentos em que estamos na floresta são as mais assustadores, principalmente porque há uma voz do além chamando bem pertinho do ouvido dos personagens. Ou até mesmo quando passa um bicho correndo do nada, quando você menos espera.

De resto, parece mais um filme de terror do anos 90, que assusta um pouco e depois acostumamos. 


Vale a pena?

Dá para se divertir bastante e fechar os olhos para os defeitos. Além disso, tem muita coisa para se descobrir, pois 186 finais não é para qualquer um. Vale a pena jogar várias vezes e ver as inúmeras possibilidades ofertadas. 

Um grande problema que vejo nesse jogo é o valor de venda, em especial na PS Store.

Sei que devemos valorizar o trabalho alheio, mas pagar quase R$300 em um jogo que não entrega toda a qualidade que esperamos para esse preço, não cola. Sim, eu sei que muito disso é para pagar o casting e tudo mais, mas olhando de forma crua, ainda assim a resposta é “não”. 

A dica é a de sempre: esperar uma promoção atraente. Foi o que fiz, comprando na Black Friday e conseguindo uns 50% de desconto. 

Feito isso, joguem e me contem os finais que acharam. 

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