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The Last Of Us – EP. 4 – Tiro, porrada, bomba e piadas

Se o pessoal estava reclamando de pouca ação nos episódios de The Last Of Us, neste domingo pode ter satisfeito a vontade de muitos fãs no episódio 4. 

Não que necessariamente vimos  tiroteio e infectados a toda hora, mas as coisas ficaram mais tensas e a caminhada de Joel e Ellie está se desenhando em um “pós-Tess’. 

De uma forma geral, achei esse episódio mais direto, sem tanta emoção quanto nos outros. Arrisco dizer que até agora, achei o mais fraco da temporada, o que deixa ele bem longe de ser um episódio ruim, mas em comparação aos outros, sai um pouco da linha. 


Relação Ellie e Joel

Após a morte da Tess, a relação entre Joel e Ellie vem se afunilando, com o instinto paterno de Joel vindo à tona cada vez que a Ellie encontra-se em algum tipo de perigo (ou seja, sempre). 

O início do quarto episódio mostra bem isso, quando ele já está conversando de uma forma mais amigável com ela e percebo uma certa hesitação e tentativa de ser frio quando diz para a menina que ela não é família, mas “é uma carga”. 

Essa fala veio seguida de um questionamento da Ellie, que resume muito bem toda a história que The Last Of Us traz para nós: “se acha que o mundo já era, pra que continuar?”. Logo em seguida, Joel diz que “é pela família”, com a Ellie não se encaixando nisso, mas sim como carga. Literalmente ela é uma carga, mas o Joel precisa se auto convencer disso a todo momento. 

Vejo que Joel enxerga a Ellie como um espelho dele mesmo, Tess, Tommy e Sarah. O “plus” é que ela é a luz que pode tirar o mundo da escuridão. 

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Foto: Reprodução/MeuPlaystation

A atuação de Bella Ramsey como Ellie ainda não foi consagrada, mas não quer dizer que a menina não esteja indo muitíssimo bem. Ela está trazendo toda a essência meio palhaça da Ellie, principalmente porque colocaram o livrinho de piadas ruins que ela passa o jogo todo lendo e fazendo o Joel se segurar para não dar um sorrisinho. 

A cena icônica do carro da Ellie folheando uma revista estilo G Magazine também esteve presente. Bella Ramsey conseguiu trazer seu próprio tom para a cena, porém, achei a reação da Ashley Johnson mais espontânea, deixando a cena mais engraçada. O que importa é que eu ri na série e no jogo.

A câmera nas cenas é algo que eu ando achando fascinante a cada episódio. Eles conseguem tornar a série imersiva sem precisarmos de realidade virtual ou qualquer outra coisa. Um posicionamento correto da câmera é o suficiente para nos sentirmos dentro do jogo e com isso, consumir o episódio com mais satisfação. 

Se Bella Ramsey ainda não brilhou intensamente como Ellie, não podemos dizer o mesmo de Pedro Pascal. Neste quarto episódio, ele “completou a transição” como Joel, provando que foi uma excelente escolha para o papel. 

A expressão de desespero e ao mesmo tempo tentando se mostrar corajoso para a Ellie, a proteção como se estivesse lidando com a própria filha, sem ter toda aquela alcunha e estereótipo de herói (até porque acho o Joel anti-herói),  tudo isso foi algo que nos fez ver exatamente o Joel Miller dos jogos na tela da HBO.

Neste episódio, Joel e Ellie saem da zona de conforto, se é que algum dia estiveram em uma.


Contextualizando Henry e Sam

A cena dos protagonistas com o carro desgovernado entrando na cidade e sendo atacados por integrantes de uma facção que manda no local ficou extremamente perfeita e adaptada com perfeição para a TV. 

Como sempre digo, não é um filme do Rambo para ter explosões surreais, tiros e ataques por todo lado e o mocinho ainda sair vivo. Assim como no jogo as coisas são as mais reais possíveis, na série não poderia ser diferente. 

Não precisou ter um número imenso de pessoas no tiroteio, violência desnecessária e tampouco pirotecnia. Conseguiram captar com excelência o desespero e medo dos dois personagens ao serem encurralados, sendo a primeira vez que isso acontecia de fato. 

Achei digno começarem a mostrar desde já a Ellie tendo que fazer escolhas e ficar entre a cruz e a espada, testando sua moral e instinto de sobrevivência.
A reação dela ao atirar e depois começar a se comover com o rapaz prestes a morrer na sua frente chamando pela mãe é algo que eu realmente esperaria ver na vida real, caso chegássemos em uma situação dessas. Também mostra que ela não sabia nada do mundo além dos muros da FEDRA e da proteção dos Vaga-Lumes, tendo uma visão talvez romantizada de tudo o que estava acontecendo. 

O Joel mostrou ser a bússola moral da Ellie, evitando que ela tenha que decidir o destino de homens que os querem mortos. A todo momento ele fala “você não tem que fazer isso”, como se ela estivesse pulando partes da infância ao presenciar toda aquela violência e caos. 

No jogo, não fica bem claro de onde Sam e Henry vieram. Na série, achei muito legal a forma como contextualizaram com clareza quem tomou a cidade, quais os propósitos e porque eles estavam escondidos e querendo fugir. 

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“Shhh”. Foto: Reprodução/DigiCartaz

A forma como os quatro se encontram também foi adaptada de maneira excelente. Não foi do nada, com os nervos à flor da pele em um momento de fuga. Foi do nada, com nervos à flor da pele, mas pegos de surpresa e em silêncio, como um filme de terror, deixando a expectativa para o próximo episódio nas alturas. 

Prevejo muito mais drama com o Sam surdo, principalmente porque a audição tem um papel crucial na sobrevivência, nesse caso. O que me deixa muito feliz é que as chances da HBO e dos diretores de The Last Of Us mostrarem capacitismo com o Sam é mínima, visto que nos dois jogos abordaram temas de minorias de uma forma bem natural. 

O protagonismo feminino em séries e filmes de ação estão cada vez maiores e gosto muito da forma que The Last Of Us insere mulheres no comando das coisas, não as tornando heroínas e nem vilãs, mas sim, mostrando a força e a disciplina delas para liderar uma guerra. 

Além da Marlene, temos agora a Kathleen, interpretada pela Melanie Lynskey, que comanda os caçadores que usurparam o poder da FEDRA na cidade. Estou curiosa para saber como ela irá interagir com Joel e Ellie e também se terá alguma ligação com o destino de Sam e Henry, já que a série está adaptando algumas coisas além dos acontecimentos do jogo. 

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Melanie depois de deixar o Charlie Harper e começar a mandar matar todo mundo. Foto: Reprodução/JC Online

No fim, penso que Joel e Ellie vão passar por muita coisa nessa cidade para terem mais cicatrizes e criar uma casca de sentimentos relativos a pessoas que vão perdendo pelo caminho. No fim, eles só queriam ir para a casa do Tommy “em paz”. 

Depois do episódio lindo de Bill e Frank, podemos ver que a guerra irá começar de verdade. 


Próxima transmissão de The Last Of Us

Vale lembrar que o episódio 5 será transmitido na sexta, por conta do Super Bowl LVII. ✿